gótico ocidental x lolita - I

Céus, há quanto tempo não posto aqui? Mal começamos o blog e já estou negligenciando ele, que horror! Mas eu estava com dificuldade de encontrar um assunto que já não tivesse sido discutido, de fato. (Isso, e preocupada com o vestibular; acho que vocês já estão familiarizados com essa realidade, haha.)

Vocês devem estar olhando pro título do post e pensando o que diabos a maluca aqui pretende. O "x" do título, na verdade, não é um "versus", mas uma tentativa de fazer um crossover entre os dois – sim, acredito que seja perfeitamente possível, inclusive para demonstrar que Gothic Lolita pode ser tão diverso quanto o gótico ocidental. Para isso, farei uma correspondência entre seus subestilos e Lolita. Para os posts não ficarem grandes demais, vou dividir o assunto em partes, ok?

Os subestilos góticos funcionam de maneira bem diferente dos Lolita na prática. Na verdade eles são mais subestereótipos estéticos dentro do estilo, que os indivíduos adotam e misturam a seu bel-prazer. (Lolita poderia ser assim, mas a grande maioria – as marcas, inclusive – está mais preocupada em seguir os subestilos à risca.) Tal qual Lolita, porém, tirando alguns temas indiscutíveis, sequer há um consenso sobre a definição desses estereótipos. Assim como você vê em algumas publicações "Victorian Lolita" independente de "Classic Lolita" e pessoas incluindo "Koteloli" no espectro "Amaloli", há quem separe "Cabaret Goth" de "Fetish Goth", ou mesmo inclua Rivetheads ou Metaleiros no espectro Gótico. Os góticos, no entanto, não esquentam muito a cabeça com isso – até porque estão mais preocupados em diferenciar um subgênero musical do outro.

Traditional Goth, ou "Trad Goth"

Como o nome já diz, é o gótico "de raiz". A estética Trad Goth bebe diretamente do início dos anos 80, quando o gótico ainda deixava bem claro que era um dos muitos netos do Punk. Por conta disso, excetuando-se a estética Deathrock/Batcave, Trad Goth acaba sendo o tipo que mais conserva a desconstrução e o ultraje presentes no Punk. Assim, abundam o couro, as redes tipo arrastão e elementos de bondage, misturados à maquiagem pesada, renda, tule e transparências e os cabelos enormes e cheios de laquê, típicos do exagero oitentista. Os maiores ícones da época são provavelmente Peter Murphy (traidor!), Siouxsie Sioux e Robert Smith. Outra inspiração para o estilo? A Morte, de Sandman.

Se fôssemos fazer um crossover com Lolita, o resultado provavelmente sairia algo bem semelhante ao que podemos ver nas Gothic & Lolita Bibles antigas, um Gothic ao mesmo tempo puxado para o Ero e para o Punk. Marcas japonesas especialmente úteis para se atingir esse look são Na+H, h.NAOTO e GRAMM, alice auaa e especialmente a finada Arachnophobia.


Saia-anágua: FRILL; espartilho de couro: Na+H. A anágua de tule é opcional, mas ela ajuda a dar o ar oitentista. A maquiagem? Pesada, sim, e especialmente inspirada nos olhos egípcios e nas atrizes do cinema mudo dos anos 20, com as linhas retas e bem definidas. Nos lábios, um batom vermelho, preferencialmente fosco.

Romantic Goth

Contrastando com o cinismo do Trad Goth, temos esse tipo sonhador e melancólico. É provavelmente o tipo de gótico com que vocês devem estar mais familiarizados, até porque ele é o mais retratado, além de adotado por várias vocalistas de bandas de Metal. Isso se dá porque o Romantic Goth é um tipo mais literário e quase fantástico, por assim dizer. Ele pega sua inspiração da literatura gótica dos séculos XVIII e XIX – e do Ultra-Romantismo, no caso dos brasileiros –, e por isso, sua estética será menos bruta do que o Trad Goth, e pegará influências de trajes de época, abusando de tecidos ricos como o veludo e o tafetá, de rendas e da leveza diáfana da gaze e do chiffon, tudo isso em preto e tons de pedras preciosas. Acaba, também, que o Romantic Goth concentra boa parte dos clichês mais notórios que se tem do gótico: cemitérios, noites enevoadas, motivos medievais, rosas e catedrais e romances trágicos e etc.

A Caro-chan, autora do blog F*** Yeah Lolita, já postou uma coordination crossover Romantic Goth x Lolita, que eu adoro, por sinal. (Aliás, toda coordination que ela faz é fantástica, ainda mais porque ela mesma dá os próprios toques de gótico ocidental normalmente. Recomendo.) De certa forma, Gothic Lolita em si já é inteiro influenciado por Romantic Goth, mas a marca que mais extrapola seus temas é, sem dúvidas, a Moi-Même-Moitié, até na parte do Mana ser um metaleiro com manias de gótico. No mesmo estilo, temos a Rose Melody. O Atelier Boz e sua marca irmã Lapin Agill também têm algumas peças que podem ser aproveitadas.


Aqui o tom de pedra preciosa que eu escolhi foi o da Safira, exatamente para aludir ao clássico esquema da Moitié (apesar de a saia ser a única peça deles que eu usei aí). Mas pode ser qualquer gema. Aliás, pode-se mesmo fugir do preto e usar cores mais espectrais como cinza e brancos frios; o visual fantasmagórico também faz parte desse estilo. A maquiagem, embora ainda pesada, já pode ganhar mais suavizações do que a tipicamente Trad Goth, com o abuso de esfumaçados. Os batons inclusive são mais escuros, e não necessariamente foscos. Os cabelos são quase sempre soltos ou semi-presos, fazendo o gênero donzela medieval.



E, depois de tratar dos tipos mais clássicos de gótico, encerro aqui a primeira parte! E claro que esses crossovers não ficam limitados ao que eu fiz; as possibilidades são infinitas. Até porque essas coordinations foram temperadas pelo meu próprio gosto, haha. No próximo post eu devo tratar de um que soa óbvio, mas que tem mais nuances do que parece: o Victorian Goth.

Até a próxima!