sexta-feira, 30 de julho de 2010

Ser Lolita

Para falar bem a verdade, a idéia deste post surgiu... agora. Yoniko me passou este link de um tópico no Orkut (leiam até o final se quiserem rir), e o que era para ser um riso passageiro acabou me fazendo ponderar. Então, quis fazer esse post para aproveitar que está tudo bem fresco na minha cabeça, ainda, e porque acho que dá para se ter uma boa conversa em torno desse tema.


Há um post em particular desse tópico que já foi deletado, infelizmente, mas que continha algo como "se você veste Lolita e não age como uma, então você está só fantasiada". Embora certamente infeliz, esse comentário dá, sim, muito pano para manga.

Direi isso aqui e provavelmente direi outras vezes: há uma diferença enorme entre vestir Lolita e ser Lolita. E eu não me refiro de maneira alguma ao Lifestyle.

Mas eu já explico meu raciocínio! Deixem primeiro eu só definir algumas coisas:

Estilo - É algo externo, puramente estético. Um edifício pode ser construído em estilo Art Deco. Uma pessoa pode se vestir no estilo Gótico.

Subcultura - É a cultura alternativa, que não se encaixa na mainstream, a cultura vigente. Em termos gerais, a subcultura consiste em um interesse em comum (geralmente música), um estilo característico e os eventos sociais que reúnem seus adeptos. São as vulgas tribos urbanas. Assim, temos a subcultura emo, a indie, etc. Grupos como hippies, anarco-punks e skinheads, por sua vez, recebem a denominação de contracultura, pois há ideologias políticas que batem diretamente contra a mainstream agregadas ao seu núcleo.

Lifestyle - O sentido particular que as Lolitas dão a esse termo é o de incorporar em todos os aspectos da vida aquilo que a subcultura tem a oferecer. Podemos, portanto, dizer que um otaku que tem o quarto revestido de pôsteres de anime, dorme com um dakimakura e formou-se em japonês para fazer faculdade de mangá no Japão é um lifestyler, para usar um exemplo bem esdrúxulo.

A maioria das pessoas diria que Lolita é só um estilo. E, de fato, é inegável que tenhamos o estilo Lolita. Mas eu vou além e digo que Lolita tornou-se, por falta de palavra melhor, uma subcultura, também. Por que "por falta de palavra melhor"? Simples: porque o dito interesse em comum é o próprio estilo. Porque convenhamos, meninas: você pode até não fazer parte disso tudo, mas não dá para negar a realidade da subcultura agora, depois do nosso lindíssimo Meeting Nacional.

E mais: se a subcultura se formou, é porque há uma afinidade que vai muito além das roupas, e é esse je ne sais quoi que faz com que Lolita seja mais do que um estilo para alguns indivíduos.

Por exemplo: várias e várias cantoras pop adotam um visual gótico em seus clipes e turnês. Se elas gostam da estética? Provavelmente gostam, ou não vestiriam, correto? Mas isso faz delas góticas? Não, porque eu duvido que esse gosto pelo visual parta de qualquer identificação com o que ele representa.

Da mesma maneira, ao meu ver, a Lolita é Lolita não por vestir as roupas, mas porque as roupas que ela veste refletem uma característica que já é dela, porque batem com os gostos que ela já tinha -- ou descobriu que tinha com Lolita. Não é questão de "nascer Lolita", até porque "alma Lolita" é tão absurdo e ridículo quanto a infame "alma gótica" -- quem tem qualquer contato com cultura alternativa sabe que essa falácia não tem cabimento e que rótulos simplesmente não funcionam assim. E também não significa que a Lolita é Lolita por se encaixar em um estereótipo arbitrário.

Há tantos motivos quanto há indivíduos participando da subcultura: uma é Lolita porque combina perfeitamente com seu jeito feminino e recatado, outra porque é uma das formas mais eficientes de demonstrar seu amor por antigüidades, outra ainda porque foi a maneira que encontrou de conservar a magia da infância. Essas pessoas não precisam sequer seguir o Lifestyle -- ou mesmo já seguiam e sequer sabiam --, mas o fato é que Lolita possui um significado mais profundo para elas, e é isso que as diferencia de quem só veste por vestir.

O que é ser Lolita para vocês?

5 comentários:

  1. Sem querer ofender, mas acho isso de "ser lolita" uma coisa completamente escrota. As pessoas parecem que não sabem separar uma moda de uma personalidade; são poucas as que sabem discernir entre o gostar de algo por ser bonito ou gostar de algo porque aquilo reflete alguma filosofia de vida sua.

    Se você acha qualquer coisa bonita, não há mal em tentar aplicar aquilo para você mesmo apenas pelo valor da estética. Criar uma filosofia inteira sobre ser algo, ter uma subcultura e etc. apenas para desculpar sua vontade de vestir algo que não está no padrão é patético e apenas abre a razão dos críticos que acham que gastar dinheiro com quinquilharias lolita é nada menos que síndrome de Peter Pan. Mas o pior não é isso: São as pessoas que realmente acreditam nisso. Quando se evoca uma discussão sobre Ser Lolita, tem que ter consciência que pessoas vão ler sobre isso e acreditar naquela verdade - porque será a verdade que elas procuram pra fazer o lolita um meio de vida.

    Lolita é uma moda, não um meio de vida sobre síndrome de Peter Pan. É um hobbie, é consumismo estético, nada mais que isso. Digo nada mais que isso porque há muitas outras formas de demonstrar amor por antiguidades - até porque não são todas as antiguidades que são vitorianas, não é? - ou relembrar a infância. É de cunho essencialmente estético porque é delicado de se trabalhar sem que fique feio.

    Eu chamaria o que uma loli-dresser faz de Arte, e não Filosofia/Lifestyling. Até porque, convenhamos, as lolitas praticamente disputam como se fosse um evento especial onde todos mostram suas habilidades de montar sua roupa, sua 'acessorização', a harmonia das cores, dos acessórios e dos cabelos. Há um pouco de cultura-de-chá-das-quatro, mas não muito mais que isso. A essência é estética, até porque as garotas não parecem crianças, mas sim bonecas do século XIX que foram popularizadas basicamente entre a alta classe para divertir as ricas e ociosas senhoras com roupinhas e acessórios para suas bonecas.

    O blog é muito bom, eu só discordo dessa idéia bitolante de que uma coisa precisa necessariamente ter uma profundidade intelectual intensa para que se torne moda. Se for sobre isso, comentem sobre a noção de design necessária para se tornar uma lolita. Não é a toa que encontramos tantas pseudo-lolitas horrorosas por aí.

    Ah, e eu não estou comentando sobre futilidade, até porque acho muito bonito o estilo e, como já ressaltei, precisa de um bom conhecimento de estética pra aplicá-lo. Foi só o post que pareceu furado. =p

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  2. Obrigada pelo comentário, N.A. :) E desculpe pela demora em responder, andei meio ocupada esses dias. :~ Queria responder diretamente, mas acho que o Blogger não tem esse recurso; se tem eu não estou achando, então perdoe a ignorância com o sistema.

    Respondendo o seu comentário, eu não necessariamente discordo de você, até porque eu sei que a sua visão é compartilhada por muita gente envolvida em Lolita -- eu só acho que estética e consumismo não são o bastante para unir tanta gente como Lolita une, até por conta da quantidade de subestilos e variações que, esteticamente, podem até ser opostos polares. Talvez isso seja até ingenuidade de minha parte, não nego. :~

    Também não estou dizendo que seja ruim gostar de algo só pelo valor estético -- se eu dissesse que não faço isso o tempo todo, estaria contando uma mentira cabeluda. XD Porém, e isso é uma característica minha (e sei que é assim para outros também), nem tudo o que eu acho belo é algo que me reflita, ou que sequer combine comigo. Exemplo? Eu combino com punk tanto quanto Mana combina com um full set de Milky Planet, mas nem por isso eu deixo de gostar -- eu me sentiria estranha e fora de mim aplicando o punk em qualquer uma de suas facetas (estética, musical, filosófica ou o que for) a mim mesma, então prefiro deixá-lo para os outros.

    Mas reforço aqui, aproveitando a verdade imensa que você disse, que eu não sou dona de verdade nenhuma, longe de mim. D: O post não está aqui para doutrinar ninguém, mas para expôr uma visão pessoal e gerar discussão -- e acho que ele cumpriu seus propósitos. :)

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  3. Eu concordo com o seu post Arietide, mas acho que para as pessoas, elas ainda vão demorar a discernir o que é "fantasia" de moda.
    E também acho ridículo ir nos encontros onde as meninas exibem seus coordenates e suas peças de burando como se fossem prêmio para ser vangloriadas ou fazer rivalidades (por isso as vezes que eu tenho nojo de comparecer aos meetings, e acabo ficando em um grupo fechado de pessoas para não ver essa palhaçada).
    As pessoas dão valor a muita coisa fúteis, isso é triste.

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  4. ai meu deus, lifestyle. eu odeio essa palavra. porque ela e derivadas (omg comportamento omg tribo omg) sempre gera uma discussão que nunca leva a lugar nenhum. e nem é porque ninguém sabe definir, mas porque CADA UM tem a sua própria idéia do que é. pessoalmente, eu acho que nem existe isso. cada um tem seus hobbies, e cada um que gosta de lolita vai curtir eles em níveis diferentes. pra mim quem cultiva isso mais do que a maioria não tem necessariamente um ESTILO DE VIDA baseado em lolita. até porque lolita pra mim não dá pra ver de forma tão simplória tendo tantos subestilos e tantas pessoas diferentes com gostos diferentes que usam, e o que costumam citar como "lifestyle" é tipo, fazer cupcakes numa tarde ensolarada. pelo amor dos deuses.

    eu acho complexo alguém responder que "sou lolita" quando se pergunta quem vc é. todo mundo fala "sou uma estudante de x coisa, prossifional em x coisa, moro em x lugar, tenho x anos". ou seja, esse "ser" aí é bem ambíguo pra quem usa lolita uma vez por mês, ou nem isso. quem incorpora mais isso no dia-a-dia é "mais lolita" que os outros? eu acho que não tb, justamente pelo único ponto definitivo que vc disse sobre o interesse em comum, que é o estilo. dá pra ser lolita sem ter todos os interesses relacionados o que chamam de lifestyle, mas não dá pra ser lolita sem se apropriar do estilo.
    ou seja... eu não acho que é uma coisa a ser definida. vc é lolita quando vc tá vestida de lolita. apenas. não importa o quanto vc incorpore isso no seu dia-a-dia. isso se chama estilo próprio, não é "lolita", não necessariamente.

    concordo plenamente com o que vc disse sobre a subcultura, resume bem. eu sempre bati nessa tecla desde os tempos da mailing list egl, mas não sei qual é essa mania que as pessoas tem de falar que "estilo" é só imagem, "moda" é só imagem, "roupas" são só imagem, ou ainda, que moda é igual a futilidade. é um jeito mto plano de ver algo. tem que parar de ficar dando uma de revista veja e ficar rotulando TUDO (mas tb não acho verdadeiro exagerar e fazer uma análise antropológica sobre o assunto). seria ótimo se conseguissem separar tb SUBCULTURA/TRIBO de FILOSOFIA. nem toda subcultura tem um filosofia a ser seguida, hello. vide descrição do post. isso é uma imagem ultrapassada da idéia dos hippies e punks que ficou impregnada no cérebro.

    eu acho que quem disse essa frase aí "se você veste Lolita e não age como uma, então você está só fantasiada" deveria apenas trocar o "agir" por "se identificar/gostar" e voilà. faria completo sentido pra mim do que é lolita.
    eu acho MTO difícil separar o "vestir" do "ser". realmente difícil. acho que nem dá, actually. se vc só veste, pra mim é a tal citada fantasia, o "cosplay de lolita".

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  5. Olha!
    Taí uma discussão que faço há algum tempo... Por aqui, quando ainda tava no começo do hobbie separei um "estar" de um "ser" lolita, bem antes de sacar essa de lifestyle, muito menos desse dilema todo... Foi quando eu percebi "bem, antes eu ia pra evento e uma hora fazia cosplay, outra "lolita", outra decora... Enfim, eu 'ficava' lolita". Quando comecei a acumular algumas roupas, acessórios, pesquisar mais e ter tanto meu primeiro dream dreass quanto meus primeiros "ídolos"... Daí sim me chamei de lolita.

    Acho também que estar em um meeting, com essas roupas, querendo ou não chama comportamentos que antes você não daria tanta atenção... Nem que seja só pela atenção por não amassar o vestido, algo já muda.

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